O Mistério do Tempo
Como podemos descrever o tempo? É curioso pensar nele como algo que nos atravessa, mas nunca podemos tocar. É um mistério, um convite constante ao paradoxo. O tempo somos nós, com nossas rugas, nossos medos e nossos sonhos. Ele é tanto um escultor gentil quanto um carrasco impiedoso. Seu poder, muitas vezes, só é reconhecido pelas lembranças que deixa em seu rastro.
No entanto, o tempo é mais do que isso; é um mestre do imprevisível, capaz de nos surpreender nos momentos mais simples da vida, quando menos esperamos. Hoje, depois de anos de insistência, finalmente consegui impedir que o tempo me roubasse mais um sonho. Transformei-o em um objetivo, algo maior que a incerteza de uma vida cuja extensão não consigo prever.
A Construção e a Ruína
Percebo, com clareza, que tentar compreender o tempo é um exercício de angústia, talvez até maior do que desvendar os próprios mistérios da existência. O tempo, com sua impassível cadência, constrói o melhor de nós, erguendo em silêncio as estruturas de nossas conquistas e aprendizados.
E, surpreendentemente, enquanto ele molda nosso potencial, nos vemos, tantas vezes, arquitetando as ruínas que podem nos consumir. O tempo não nos julga; ele apenas segue, enquanto tentamos compreender o que somos dentro desse inexorável caminho.
Memórias e Saudade
A melhor definição de tempo está nas memórias do cotidiano, nos pequenos detalhes que muitas vezes nos escapam. É o som reconfortante da voz de quem nos protege, o calor da presença de quem nos ama, a saudade que ecoa por alguém que nos completa.
O tempo, em sua essência, parece perfeito e quase eterno enquanto o vivemos. Porém, ao olharmos para trás, através do retrovisor da vida, perceberemos que cada instante deveria ter sido vivido com a intensidade ideal. Assim, hoje, não deixaríamos que as lágrimas descrevessem o restante de algum momento que jamais se repetirá.
O Professor Silencioso
Agora, neste exato momento, ao olhar para trás, através das lembranças vívidas em meu pensamento, percebo como o tempo me ensinou, pacientemente, lições que jamais esquecerei. Ele me deu amigos e os levou, como um mestre que empresta o livro perfeito para depois retíra-lo da estante. Trouxe-me paz e desespero, entregou-me risos e, sem hesitar, levou lágrimas em troca.
O tempo, como um professor severo, não explica tudo; apenas coloca as respostas diante de nós, esperando que as interpretemos.
Marcas e Aprendizado
Mas o que mais me intriga é sua maneira de ensinar. Ele não sussurra nos ouvidos, ele marca a pele. Cada linha em meu rosto conta uma história, cada cicatriz é uma vírgula em um parágrafo que talvez eu ainda esteja escrevendo.
Não é estranho? Para aprendermos o que é felicidade, precisamos entender a dor. Para apreciarmos o riso, devemos conhecer o silêncio. O tempo nos ensina a amar, mas também nos prepara para perder.
O Ciclo Inevitável
E há algo perverso nisso. Não porque o tempo seja cruel, mas porque ele é intransigente. Ele não para. Não adianta implorar, não adianta gritar. Ele segue, implacável, com sua marcha surda e cega.
O tempo nos machuca porque, ao nos ensinar, nos transforma. Somos feitos de momentos que já não existem e de esperanças que ainda não chegaram. Somos, ao mesmo tempo, o ontem, o hoje e o amanhã.
A Chance de Recomeçar
O tempo, com toda a sua dureza, carrega um presente sutil: a chance de recomeçar. A cada amanhecer, ele nos oferece uma página em branco, um convite para escrevermos algo novo.
Acredito que talvez essa seja sua maior lição: não importa o quão implacável possa parecer, o tempo é, na verdade, um escultor paciente. Ele não destrói, mas molda. Nos ensina a transformar dor em poesia, cicatrizes em mapas que nos guiam de volta a quem realmente somos.
Porque viver é isso: aprender a dançar com as sombras que ele projeta, deixando que cada golpe nos torne mais fortes, mais humanos.
O Tempo e a Existência
No fim, o tempo não é apenas algo que escorre por entre os dedos; ele nos molda. Enquanto avança, seguimos vivendo, errando, sonhando e aprendendo. Somos uma obra em eterna transformação, um mosaico de imperfeições que, de forma contraditória, se unem para criar algo extraordinário.
Por isso, devemos caminhar com serenidade, saboreando cada instante, valorizando a presença de quem realmente nos faz bem. Cada momento, por mais simples que pareça, logo se dissolve em um passado onde as lembranças se mesclam com as lágrimas de uma saudade que aperta o coração de quem vive, por breves instantes, o agora.
https://www.pensador.com/frase/MzUyNjk3Nw/
https://entrelinhasetelas.com.br/wp-admin/post.php?post=105&action=edit